Deixei de te ver. Não há luz sequer. A noite cai. Como se fosse uma pessoa, a noite cai. Como se não fosses tu. Como se tivesses de partir e já fosses atrasado e fosses a correr e depois te esquecesses de voltar. E, mesmo querendo, já não soubesses o caminho de volta, mesmo querendo, não pudesses por já não o haver, o caminho de volta até mim. Sem maldade, puro esquecimento, sim, posso acreditar que lá fora facilmente encontres o que quiseres e isso te dê prazer. Aqui não, aqui, junto a mim, é mais difícil, eu sei. Aqui não se deixa agarrar um só instante. Derrete-se na boca, a vida, que está a passar. Num instante.

Pedro Paixão, Muito, meu amor

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