Marie Curie

Era uma mulher apedrejada, insultada, humilhada, aquela que respondia pelo Prémio Nobel da Química, em Estocolmo, nesse imóvel dia 11 de Dezembro de 1911. O prémio distinguia "a descoberta dos elementos rádio e polónio, a caracterização do rádio e do seu isolamento no estado metálico e a investigação sobre a natureza e os enlaces químicos deste elemento". Uma vida inteira de um trabalho inovador, paciente, titânico, que lançava as bases de inestigação nuclear e fazia avançar a medicina, a economia e a técnica científica. Marie já estivera naquela sala, mas na plateia, ouvindo o discurso do Nobel de 1903, feito, em nome do casal, pelo seu marido. Agora, pela primeira vez, era uma mulher quem subia ao palco. No seu antigo lugar de plateia sentava-se a filha, que vinte e quatro anos depois subiria àquele estrado, como segunda mulher nobelizada. Madame Curie criara, mais do que uma revolução na ciência, uma nova linhagem de mulheres: as que não abdicam da inteligência criadora só por serem mulheres. Sem deixar de homenagear o trabalho do marido morto, Pierre Curie, inventou uma voz serena para sublinhar todos os passos dos seus feitos científicos: "A história da descoberta e do isolamento desta substância forneceu a prova da hipótese, por mim lançada (...) O trabalho químico de isolar o rádio no estado de sal puro e de o caracterizar como novo elemento foi realizado essencialmente por mim (...) Eu empreguei... Eu verifiquei... Eu medi... Eu pensei... Eu obtive".


Inês Pedrosa, 20 Mulheres para o século XX

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