Eu e a Mafalda chegamos à conclusão que, nos filmes, é pior levar uma estalada na cara do que um tiro na barriga. Eles ficam todos marcados da estalada mas com o tiro, por vezes, andam para lá a correr de um lado para o outro sem se mostrarem muito incomodados. O mundo do cinema é realmente fantástico!

9 comentários:

  1. Ó pá, eu já vi filmes com gajos todos esventrados e com as tripas a badalar que, apesar disso, continuavam ali nas suas sete quintas.

    E há aquele filme com a Rachel McAdams (uau!) em que um gajo é esfaqueado no pescoço, a faca fica lá encravada e o gajo continua a perseguir a donzela durante uns bons cinco minutos, até que, por fim, se apercebe da coisa e se estatela subitamente no meio do chão ;-P

    Zé, ou Zé Pedro (já não sei bem)

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  2. O indispensável IMDb (a minha Bíblia) acaba de me informar que o filme se chama "Red Eye" e que o gajo esfaqueado é um tal Cillian Murphy. Parabéns ao Murphy, parabéns ao IMDb, parabéns a mim, que também sou gente.

    (o teu coiso da verificação de comentários acaba de me exigir que introduza os caracteres "lerspt". Eu não sei o que isto é, mas desconfio que me anda a insultar em búlgaro. E isto é muito chato, porque assim não posso saborear o fim dos exames condignamente - eheheheh [risos sádicos])

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  3. A verosimilhança no cinema é desnecessária. O homem até podia andar o filme inteiro com a faca no pescoço que isso não tornava o filme mais ou menos credível, desde que estivesse coerente com o mundo criado no filme.

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  4. Não é bem assim – e o teu comentário, aliás, contradiz-se. Uma coisa verdadeira é algo que se passa (ou pode passar) na realidade; uma coisa verosímil é algo em que não repugna acreditar – seja verdadeiro ou não, realista ou não. Um filme não tem de ser verdadeiro nem realista; mas tem de ser verosímil: tem de encenar uma aparência de plausibilidade. É aquilo que, em literatura e cinema, se apelida de “suspension of disbelief”: prolongar a ilusão de plausibilidade, uma vez aceites as premissas.

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  5. Explicando melhor o que queria dizer: o desenlace de um filme não pode contrariar as suas premissas. Vê o ET. O ET não é verdadeiro, mas é verosímil: aceite a premissa de que o extraterrestre desceu à Terra, não custa aceitar que o gajo ande a passarinhar de bicicleta pelos céus, ou lá o que era (já não me lembro bem). Quem diz o ET, diz o Star Wars, o X-files, o Senhor dos Anéis e essas coisas.

    Nada disso se passa no filme a que aludi. Não sei se viste o “Red eye”, mas é a história de um gajo que persegue uma mulher no avião e, depois, rapta-a e leva-a para casa. Aí chegados, ela começa a debater-se e esfaqueia-o; e o gajo anda por lá a vaguear alegremente até cair de borco. Um filme que aspira a ser “realista”, como o "Red eye" aspirava, não pode introduzir um elemento de fantasia neste ponto.

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  6. Ora portanto, é desnecessário explicares o que quer que seja porque eu sei até bem de mais como se processam esses mecanismos no cinema. Se necessitares de mais esclarecimentos pergunta à autora do blogue que ela esclarece-te.

    A questão prende-se aqui com o significado da palavra verosimilhança que eu possivelmente terei usado de uma forma errada ou então não fui muito claro.

    Obviamente que o filme necessita de ser coerente com as premissas que estabelece, tal como eu referi e como foi exemplificado com o ET.
    Agora, é bastante comum que essas regras não estejam de acordo com as regras do mundo não-ficcional - foi nesse sentido que eu falei em verosimilhança, ou seja, no ser totalmente coincidente com a realidade.
    Nessa medida, é perfeitamente aceitável que um tiro não seja fatal ou absolutamente incapacitante num filme, desde que anteriormente se tenha estabelecido que assim aconteceria.
    Existem muitas formas de estabelecer essas regras, algumas delas dentro do filme mas também não se pode descurar uma dimensão metafílmica que me parece que não está a ser tida em conta na análise do "Red Eye". Já vi o filme e, embora não me lembre especialmente de tudo, lembro-me que não me chocou particularmente isso. Não se pode deixar de ter em consideração o facto de o filme, para além de se inserir no género de suspense, estando para isso submetido a algumas convenções de género, há também que ter em conta que o realizador é o Wes Craven que, como grande parte dos realizadores, tem marcas estilísticas próprias que estão sempre presentes nos seus filmes.

    Se a memória e a imaginação não me atraiçoam, no final do Scream, há algo parecido: o assassino está morto no chão há uns quantos minutos e os dois sobreviventes da chacina olham para ele. Vão falando entre eles e às tantas há um que diz "Careful. This is the moment when the supposedly dead killer comes back to life, for one last scare". Nesse preciso momento, o assassino esbugalha os olhos e faz um esgar como quem vai efectivamente voltar à vida e atacar novamente, mas logo leva outro tiro na cabeça e a heroína do filme responde "Not in my movie". Esse ponto no Red Eye é um pouco como isto: uma sujeição a marcas estilísticas e a convenções de género. Para além disso, e para concluir, não me parece correcto dizer que o Red Eye tem aspirações "realistas", mas vá, isso poderá ser discutível.

    Lamento a imensidão de texto mas isto hoje parece que anda abundante por estes lados.

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  7. Estou sem tempo, mas cá vai: o que escreves vai ao encontro de muito do que escrevi. Eu acho que, na origem desta pequena divergência, está a classificação do Red eye enquanto "filme com aspirações de realismo" ou sem elas. Eu acho que é um filme pretensamente realista, tu não – por isso, a nossa interpretação da tal “suspension of disbelief” divergirá necessariamente.

    E é essa divergência à partida que me leva a discordar do paralelismo com o Scream. Se virmos a coisa segundo a tua interpretação, o paralelismo faz perfeito sentido; segundo a minha, não: porque estás a comparar um filme pretensamente realista (Red eye) com outro em que a premissa se inclina deliberadamente para a fantasia (Scream).

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  8. Mas isto é uma questão interessante e podia conduzir-nos mais longe. Há um exemplo que me parece paradigmático: viste o Monty Python and the Holy Grail?...

    O filme, entre outras coisas, satiriza as histórias cavaleirescas da Idade Média (o Lancelote, a Távola Redonda, etc.); e ensaiava uma espécie de auto-sabotagem deliberada no final: os cavaleiros da Idade Média cruzavam-se com polícias guiando automóveis, etc. Mas aí estamos perante um filme eminentemente humorístico que, para mais, tem um forte pendor non-sense, pelo que é uma espécie de punch-line que não bule com as premissas - porque as próprias premissas são o non-sense.

    (ó pá, não liguem aos anglicismos: tive de rabiscar isto à pressa, sem tempo para pensar nos equivalentes portugueses)

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