Virginia Woolf

Leonard Woolf, com quem casou aos trinta anos, foi o único autor com cujo o sucesso Virginia se congratulou sempre, a única pessoa com a qual não suportava zangar-se - enfim, o céu que a protegia. Nao se tratou de um casamento de paixão, mas há, ao longo dos Diários, inúmeros sinais de que este terá sido um tranquilo casamento feliz (e ela di-lo claramente) - sem a branca frigidez que muitas vezes lhe é imputada. Ele servia-lhe o pequeno-almoço na cama e enroscavam-se horas à conversa, ele voltava mais tarde de Londres e ela ia a pé à estação, em ânsias, ela acabava de escrever a primeira versão de um romance e submetia-lho, aguardando o parecer dele como o único veredicto correcto. Virginia era demasiado apaixonada pela escrita para que, verdadeiramente, pudesse entregar-se a outra paixão. Leonard teve sempre consciência disso e quis votar a sua vida a Virginia e à obra dela, porque as amava a ambas profundamente.
Com o correr do tempo, uma e outra fundem-se aliás de uma forma cada vez mais inextricável. Virginia busca "as palavras que apanhem a vida", para lá dos artifícios da realidade aparente. É esse esforço que ciclicamente a esgota e a empurra para o túnel silencioso da loucura.


Inês Pedrosa, 20 Mulheres para o século XX

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