Mas não és esse Amor doce e sereno,
Nascido da Beleza, o Amor antigo,
Irmão das Graças, lírico e pequeno
Amando o riso, o campo, e o sol amigo!
És um amor desolado como um treno,
Terrível como um açoute de um castigo,
E empunhando na dextra ensaguentada
Um ramo de cipestres e uma espada!

Como eu sofri das largas cicatrizes,
Que abriste no meu peito, sem piedade!
Como eu cantei meus sonhos infelizes!
Como eu te amei ao sol da mocidade!
Como inda sinto as pontas das raízes
Do amor que alimentei, e com saudade
Lembram-me as tares que ia nos caminhos,
Pensando em ti, sentindo teus espinhos!

Mas hoje mocidade, vida alento,
Tudo se foi, para não mais voltar!
Vai dissipar-se tudo, como ao vento,
Do fim da tarde o fumo azul dum lar!
Já sinto flutuar-me o pensamento
Como uma flor aquática num mar,
E nas páginas do livro dos meus ais
A sombra pôr triste NUNCA MAIS!


Gomes Leal

Nenhum comentário:

Postar um comentário