Coco Chanel

Nos seus desfiles, não admitia flores, nem música: nada que distraísse do essencial. E o essencial era a roupa. Roupa que tinha de falar por si, evidenciando uma lógica de serviço ao corpo da mulher. Nenhum texto, nada de descrições líricas para facilitar a vida aos jornalistas: fazia troça dos estilistas que recorriam àquilo a que ela chamava "poesia de costureira". Gabrielle Chanel amava demasiado a poesia para a corromper em negócios de trapos.
Nesse dia 5 - o seu número de sorte, o nome do seu perfume-fétiche - observou o silêncio gelado da derrota, muito direita, nos degraus estratégicos de onde dominava o desfile. A imprensa dos seus amigos ingleses resumiu assim o seu come-back: "um fiasco". No dia seguinte, começou tudo de novo. E, em menos de um ano, voltou a ser uma estrela. Rica e solitária, picando tiranicamente raparigas imóveis, até que o último defeito cedesse. Foi assim até aos oitenta e quatro anos. Depois o corpo, como a moda que o veste, desapareceu. Chanel dizia: "A moda passa, mas o estilo fica". E tinha razão, malgré elle. Nenhuma mulher lhe tomou o posto.


Inês Pedrosa, 20 Mulheres para o século XX

2 comentários:

  1. "A moda passa, mas o estilo fica" 5

    só disseram fiasco 1 vez, ela mostrou que nasceu p'ra mais...e...teve MAIS

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