(Eu sei que tudo é secreto e tudo é improvável)
Regressas de repente do lugar insuportável das sombras e ficas lá
Às vezes falo de coisas determinadas
afasto-me irremediavelmente do silêncio do horror de tudo

Está tudo a acabar e a começar e no entanto
o peso da memória instala-se em todas as coisas de dentro para fora
Surges de todos os lados e de um só, venham-me dizer que o tempo
está aqui no meio de nós e falar-vos-ei com palavras, palavras,
                                                                                     [palavras

Emociono-me com a ciência de que estás aqui e não
tão própria e imprópria sobre o impuro esquecimento de tudo
Que distância entre tudo, sobretudo tão perto de tudo!


Manuel António Pina, Todas as Palavras

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