Na primeira noite do resto da minha vida olhei para mim, a partir de algum ponto situado muito acima, e achei-me triste e sem destino, como uma lagosta no aquário de um restaurante. Uma água turva e fria flutuava sobre a cidade, prendia-se aos cabelos e aos gestos, embaraçava o mais simples raciocínio. A multidão, animada por um DJ angolano, um homem enorme e alegre, chamado Papa Bolingô, dançava aos encontrões sob um enorme toldo de plástico. Os ritmos tropicais pareciam deslocados, como um filme de terror com a banda sonora de uma comédia romântica.
- Não há nada mais deprimente do que a alegria dos tristes - comentei alto.
José Eduardo Agualusa, O Livro dos Camaleões
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