Nunca sentiu ciúmes, pois não, Miss Eyre? Claro que não, não preciso de lhe perguntar, porque nunca experimentou o amor. Tem ainda de provar ambos os sentimentos. A sua alma dorme. Espera ainda o choque que a há de despertar. Julga que toda a existência decorre dum fluxo calmo com aquele em que até agora se tem escoado a sua juventude. Flutuando com os olhos fechados e os ouvidos tapados, nem vê os rochedos pontiagudos, não muito distantes, na margem da corrente, nem ouve as ondas cachoando na base. Mas eu digo-lhe... e pode tomar nota das minhas palavras... que chegará um dia a uma garganta estreita do canal, onde toda a torrente da vida se despedaçará em redemoínho e tumulto, espuma e ruído. Ou será despedaçada em átomos contra as agulhas dos penhascos, ou erguida e levada por uma vaga gigante para um rio mais calmo... como eu fui agora.
Charlotte Bronte, Jane Eyre
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