In a sentimental mood...
28-01-2013
200 anos de "Pride and Prejudice"
Um beijinho ao Mr. Darcy (e também à Jane Austen) pelos 200 anos a fazer sonhar raparigas como eu.
Nunca sentiu ciúmes, pois não, Miss Eyre? Claro que não, não preciso de lhe perguntar, porque nunca experimentou o amor. Tem ainda de provar ambos os sentimentos. A sua alma dorme. Espera ainda o choque que a há de despertar. Julga que toda a existência decorre dum fluxo calmo com aquele em que até agora se tem escoado a sua juventude. Flutuando com os olhos fechados e os ouvidos tapados, nem vê os rochedos pontiagudos, não muito distantes, na margem da corrente, nem ouve as ondas cachoando na base. Mas eu digo-lhe... e pode tomar nota das minhas palavras... que chegará um dia a uma garganta estreita do canal, onde toda a torrente da vida se despedaçará em redemoínho e tumulto, espuma e ruído. Ou será despedaçada em átomos contra as agulhas dos penhascos, ou erguida e levada por uma vaga gigante para um rio mais calmo... como eu fui agora.
Charlotte Bronte, Jane Eyre
Publicado na Revista Ler em 2006
Escreve mais com palavras do que com ideias?Eu acho que é assim que se escreve. Conhece a história do Mallarmé e do Degas? Conta-se (não sei se é lenda mas o John Ford dizia que quando a verdade contraria o mito, que se imprima a lenda) que o Mallarmé terá visitado o Degas no seu atelier e que o Degas lhe disse: oh, caro Mallarmé, tenho ideias fantásticas para poemas; se tivesse o seu talento… E o Mallarmé respondeu-lhe: meu caro Degas, a poesia não se escreve com ideias, é com palavras.
E é assim, também, que faz a sua poesia?É a única maneira de a fazer. Penso eu. Mas, enfim, a regra é não haver regras, como diz o Alexandre O’Neill. A regra é não haver regras senão a de cada um: com a sua rima, o seu ritmo, etc. Eu faço poesia assim e penso que a poesia da minha família, da minha consanguinidade é essa, aquela que é feita com palavras. Aliás, as palavras não são uma mala onde se metam ideias e onde se meta sentido. As palavras fazem sentido por si mesmas. Não são um meio. Provavelmente não são um fim mas o sentido nasce das palavras e elas não são meras malas de transportar sentidos. As ideias nascem das próprias palavras e do carácter misterioso que elas têm. Milagroso, às vezes. De se aproximarem, de se afastarem e de fazerem sentido.
Parte minúscula de uma Entrevista de Carlos Vaz Marques a Manuel António Pina
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