Se pudesse zangava-se. Sacudia o saco da tristeza. Se pudesse isolava-se. Passava a ser um nobre eremita, sem realções íntimas nem ambições. Qualquer ambição inspira-lhe a preguiça e sugere a certeza da derrota merecida. Se pudesse tornava-se irascível, sarcástico e impossível de aturar. Em vez de não o convidarem por não se lembrarem dele, passava a não o convidar por se lembrarem demasiado bem dele. Queria passar a sofrer da solidão de não querer. Este silêncio é que não.
Pedro Paixão, Viver todos os dias cansa
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