Morreu na noite de 5 de agosto, afundada em barbitúricos. Suicídio ou homicídio, que importa o mistério, de que vale procurar o trilho do crime quando o silêncio já não estanca? "Sei que pertenci ao público e ao mundo, não por ter sido talentosa, nem sequer bonita, mas porque nunca pertenci a mais nada nem a mais ninguém.", dizia ela, e era verdade. Ruy Belo escreveu-lhe depois um poema que dizia assim:
"o último dos rostos que mostrou era um rosto de dor
um rosto sem regresso mais que rosto mar
não há coisa alguma a fazer se certo dia
a mão da solidão é pedra em nosso peito."
Marilyn morreu da vida que teve, como todos nós. Morta, tornou-se apenas claridade, no suave cinema da memória, feito só do calor dos fantasmas familiares, desprovidos de sexo, de história ou de maldade. E em vez de velha, Marilyn fez-se finalmente a linda criança de que falava Mailer. Um sonho infantil que volta sempre ao princípio depois do fim.
"o último dos rostos que mostrou era um rosto de dor
um rosto sem regresso mais que rosto mar
não há coisa alguma a fazer se certo dia
a mão da solidão é pedra em nosso peito."
Marilyn morreu da vida que teve, como todos nós. Morta, tornou-se apenas claridade, no suave cinema da memória, feito só do calor dos fantasmas familiares, desprovidos de sexo, de história ou de maldade. E em vez de velha, Marilyn fez-se finalmente a linda criança de que falava Mailer. Um sonho infantil que volta sempre ao princípio depois do fim.
Inês Pedrosa - 20 mulheres para o séc XX
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