Não tentei ler e dormi muito mal. Sonhei que estava fechado dentro do metro parado há horas numa estação qualquer e perguntava insistentemente aos meus companheiros de viagem onde estava a minha alma porque a queria salvar. Ninguém percebia o que queria dizer. Eu também não os entendia, falavam uma língua que ora parecia russo ora castelhano. Éramos estrangeiros num sítio de ninguém. Acordei de manhã muito assustado a suar e pensei: "Estamos todos à mesma distância da morte, que é nula. É a razão que temos para continuar a viver." Levantei-me e fui lavar a cara.


Pedro Paixão, Amor Portátil

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