António José Bolívar sabia ler, mas não escrever.
O mais que conseguia era garatujar o nome quando tinha que assinar qualquer papel oficial, por exemplo, na época das eleições, mas, como tais acontecimentos ocorriam muito esporadicamente, já quase se tinha esquecido.
Lia lentamente, juntando as sílabas, murmurando-as a meia voz como se as saboreasse, e, quando tinha a palavra inteira dominada, repetia-a de uma só vez. Depois fazia o mesmo com a frase completa, e dessa maneira se apropriava dos sentimentos e ideias plasmados nas páginas.
Quando havia uma passagem que lhe agrava especialmente, repeti-a muitas vezes, todas as que achasse necessárias para descobrir como a linguagem humana também podia ser bela.
Luis Sepúlveda, O velho que lia romances de amor
Isto.
Et tu as été admise bien sur. Tu as quitté Boston pour emménager à Paris, un petir appartement dans la rue du faubourg Saint Denis. Je t'ai montré notre cartier, mes bars, mon école. Je t'ai présenté à mes amis, à mes parents. J'ai écouté les textes que tu répétais, tes chants, tes espoirs, tes désirs, ta musique. Tu as écouté la mienne, mon italien, mon allemand, mes brides de russe. Je t'ai donné un walkman. Tu m'as offert un oreiller et un jour... tu m'as embrassé. Le temps passé, e temps filé, et tout paraissait si facili, si simple, libre, si nouveau et si unique. On allait au cinéma, on allait danser, faire des courses, on riait, tu pleurais, on nageait, on fumait, on se rasait. De temps à autres tu criais, sans aucune raison, ou avec raisons parfois... Oui avec raisnon parfois. Je t'accompagnais au conservatoire, je révisais mes axamens, j'ácoutais tes exercices de chant, tes espoirs, tes désirs, ta musique. Tu écoutais la mienne, nous étions proches, si proches, toujours plus proche. Nous allions au cinéma, nous allions nager, rions ensemble, tu criais avec une raison parfois et parfois sans. Le temps passait, le temps filait. Je t'accompagnais au conservatoire, je révisais mes examens, tu m'écoutais parler italien, allemand, russe, français, je révisais mes examens, tu criais... parfois avec raison. Le temps passait, sans raisons. Tu criais sans raisons, je révisais mes examens, mes examens, mes examens, mes examens, le temps passait, tu criais, tu criais, tu criais. J'allais au cinéma. Pardonne moi Francine.
Carta de Ludwig van Beethoven
Ainda deitado a minha mente suspira por ti, minha Amada Imortal, de vez em quando alegremente, depois tristemente, esperando o Destino, se ele nos ouvir. Só posso viver ou contigo, ou de todo. Sim, decidi estar o mais longe possível, até poder voar para os teus braços e sentir-me em casa contigo, e enviar a minha alma envolta na tua para o reino dos espíritos - sim, lamento, tem de ser. Vais recuperar ao conheceres a minha lealdade; mais ninguém terá o meu coração, nunca - nunca! Meu Deus, porque é que alguém se há-de separar daquela que se ama tanto, sendo a minha vida em W. tão triste. O teu amor fez de mim o mais feliz e infeliz ao mesmo tempo. Na minha idade preciso de alguma estabilidade na vida - mas poderá isso existir para nós? Anjo, acabo de saber que há correio todos os dias - devo concluir, para que esta carta te chegue de imediato. Tem calma - ama-me - hoje - ontem.
Que saudades em lágrimas por ti - Tu - a minha Vida - meu Tudo - até breve. Oh, ama-me sempre - nunca duvides do coração fidelíssimo
do teu amado
L.
Sempre teu.
Sempre meu.
Sempre nosso.
Take me out tonight
Because I want to see people
And I want to see lights
Driving in your car
Oh please don't drop me home
Because it's not my home
It's their home
And I'm welcome no more
And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Such a heavenly way to die
And if a ten-ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well, the pleasure and the privilege is mine
Era neste apartamento, também, que havia um relógio de ébano gigantesco. O pêndulo balouçava de um lado para o outro, com um clangor pesado e monótono; e quando... chegava o momento de dar as horas, dos seus pulmões de metal libertava-se um som alto, claro, profundo e pleno de musicalidade, mas com uma sonoridade e uma ênfase de tal modo peculiares, de hora a hora, que os músicos da orquestra eram obrigados a fazer um intervalo... para escutar o som; e era assim que, por força das circunstâncias, os que dançavam a valsa cessavam as suas evoluções; e, por breves instantes, todo aquele grupo alegre se sentia desconcertado; e, enquanto soava o carrilhão, verificava-se que os mais entusiastas empalideciam, e os mais idosos e serenos passavam a mão pela testa, como se algum sonho ou meditação os confundisse. Mas quando os ecos se desvaneciam por completo, uma gargalhada sonora percorria de repente a assembleia... e (eles) sorriam como que do seu próprio nervosismo... e formulavam votos uns aos outros, em surdina, para que o bater da hora seguinte não produzisse neles uma emoção semelhante; e depois, passados sessenta minutos... ouvia-se novo toque do relógio, a que seguia o mesmo desconcerto, a mesma tremura, as mesmas meditações.
Mas, apesar disto, era um momento alegre e esplendoroso...
E. A. Poe, A Máscara vermelha da Morte
O poeta vem, em dias ímpios,
Preparar dias melhores.
É ele o homem das utopias,
Com os pés na terra, os olhos no além.
É ele que, em todas as épocas,
Semelhante aos profetas,
Acima de todas as cabeças,
Na sua mão, que tudo pode abarcar,
Deve, como se brandisse um archote,
Indiferente a louvores e insultos,
Fazer resplandecer o futuro.
Victor Hugo
Lisboa
Apesar de tudo, nunca se está só nesta cidade. Há sempre uma olhadela de soslaio que nos prende, um sorriso malicioso, um gesto inesperado, uma derrota de amor. Uma gargalhada louca que se perde de rua em rua, como num labirinto...
E na memória de quem atravessou Lisboa existe, quase sempre, um jardim misterioso para um encontro, uma esplanada para queimar a espera diante de uma bica.
Vivo em Lisboa como se vivesse no fim do mundo (...).
Al berto, O anjo mudo
quero uma vida em forma de espinha
Quero uma vida em forma de espinha
Num prato azul
Quero uma vida em forma de coisa
No fundo dum sítio sozinho
Quero uma vida em forma de areia nas minhas mãos
Em forma de pão verde ou de cântara
Em forma de sapata mole
Em forma de tanglomanglo
De limpa-chaminés ou de lilás
De terra cheia de calhaus
De cabeleireiro selvagem ou de édredon louco
Quero uma vida em forma de ti
E tenho-a mas ainda não é bastante
Eu nunca estou contente
Boris Vian
Num prato azul
Quero uma vida em forma de coisa
No fundo dum sítio sozinho
Quero uma vida em forma de areia nas minhas mãos
Em forma de pão verde ou de cântara
Em forma de sapata mole
Em forma de tanglomanglo
De limpa-chaminés ou de lilás
De terra cheia de calhaus
De cabeleireiro selvagem ou de édredon louco
Quero uma vida em forma de ti
E tenho-a mas ainda não é bastante
Eu nunca estou contente
Boris Vian
Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer cousa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.
Alberto Caeiro
A BANDA PASSOU
A Banda tocou nesta sexta-feira. [1]
E eu, por breves instantes, senti um aperto no peito, invadiu-me uma certa
nostalgia e saudade de todos estes anos passados naquela faculdade. Mas, com a
chegada dos exames, tudo voltou ao normal.
[1] Banda
dos Finalistas. No último dia de aulas, é tradição na Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa, os finalistas andarem atrás de uma banda filarmónica pela
faculdade. Entra-se em todas as salas de aula de todos os anos, na
secretaria, biblioteca, reprografia, a gritar “SOU FINALISTA”.
O que é um resíduo? (...) Dentro de algumas décadas, todos nós seremos resíduos. E para a Natureza não há qualquer diferença entre um resíduo de uma pessoa e qualquer outro resíduo. Uma pessoa, tal como qualquer outro resíduo, será um dia eliminada numa incineradora (à qual chamamos crematório) ou num aterro (ao qual chamamos cemitério).
Ludwig Kramer
Não sinto nada mais ou menos, ou eu gosto ou não gosto. Não sei sentir em doses homeopáticas. Preciso e gosto de intensidade, mesmo que ela seja ilusória e se não for assim, prefiro que não seja.
Não me apetece viver histórias medíocres, paixões não correspondidas e pessoas água com açúcar. Não sei brincar e ser café com leite. Só quero na minha vida gente que transpire adrenalina de alguma forma, que tenha coragem suficiente pra me dizer o que sente antes, durante e depois ou que invente boas estórias caso não possa vivê-las. Porque eu acho sempre muitas coisas - porque tenho uma mente fértil e delirante - e porque posso achar errado - e ter que me desculpar - e detesto pedir desculpas embora o faça sem dificuldade se me provarem que eu estraguei tudo achando o que não devia.
Quero grandes histórias e estórias; quero o amor e o ódio; quero o mais, o demais ou o nada. Não me importa o que é de verdade ou o que é mentira, mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer e me fazer crêr que é para sempre quando eu digo convicto que "nada é para sempre.
Gabriel García Márquez
Emergência
Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
– para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.
Mario Quintana
28-01-2013
200 anos de "Pride and Prejudice"
Um beijinho ao Mr. Darcy (e também à Jane Austen) pelos 200 anos a fazer sonhar raparigas como eu.
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