Não lhe pedíamos que pagasse a viagem, não lhe exigíamos nada, nem um centavo, não lhe pedíamos a menor contrapartida. Nem sequer era uma recompensa. (Ai as recompensas… a necessidade de alguém se mostrar recompensado!) No nosso caso, tudo era gratuito.
A gratuidade é a única moeda da arte.
Daniel Pennacc
Juntavam-se a conversar sem tréguas, a repetir durante horas e horas as mesmas piadas, a complicar ao limite da exasperação o conto do queres que te conte um conto. E quando diziam que sim, o narrador respondia-lhes que não lhes tinha pedido que dissessem que sim, mas que lhes tinha perguntado se queriam que lhes contasse um conto, porque se queres que te conte conto, se não queres não conto, queres que te conte um conto? E quando lhes diziam que não, ele dizia que não lhes tinha pedido que dissessem que não, mas sim se queriam que lhes contasse um conto, porque se querem um conto e se não querem não conto e ninguém se podia ir embora porque ele respondia que não lhes contasse um conto, e assim sucessivamente, num círculo vicioso que se prolongava por noites inteiras.
Gabriel García Márquez, Cem Anos de Solidão
Os livros, esses animais opacos por fora, essas donzelas. Os livros caem do céu, fazem grandes linhas rectas e, ao atingir o chão, explodem em silêncio. Tudo neles é absoluto, até as contradições em que tropeçam. E estão lá, aqui, a olhar-nos de todos os lados, a hipnotizar-nos por telepatia. Devemos-lhes tanto, até a loucura, até os pesadelos, até a esperança em todas as suas formas.
José Luís Peixoto, Abraço
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